1. Um novo lar em Beldingsville Devia ser a tia Póli Arringon, a irmã mais velha de sua mãe. Os lábios da mulher estavam cerrados numa linha fina, e seus olhos tinham tanto calor quanto uma geada de inverno.Ao se aproximar, Pollyana não pôde deixar de notar como a tia Póli era diferente de sua própria mãe. A mãe dela era toda feita de contornos suaves e sorrisos calorosos, como um cobertor aconchegante numa noite fria.A viagem até a mansão dos Arringon foi tão silenciosa que se podia ouvir o zumbido de uma mosca. Pollyana tentou quebrar o gelo, falando sobre a paisagem e fazendo perguntas sobre sua nova casa. Mas as respostas da tia Póli eram mais curtas que um dia de inverno. Era como tentar conversar com uma parede. Ainda assim, o entusiasmo de Pollyana recusava-se a esmorecer.Quando finalmente chegaram à casa, os olhos de Pollyana quase saltaram das órbitas. O lugar era enorme, como algo saído de um livro de contos de fadas. Era o tipo de casa onde se esperaria ver uma princesa acenando de uma janela da torre ou um cavaleiro de armadura reluzente guardando a porta da frente. Mas ao entrarem, o frio no ar deixou claro que não se tratava de um castelo encantado.Tia Póli conduziu Pollyana pelo que parecia ser um labirinto de escadas. Subiram e subiram até que Pollyana teve certeza de que deviam estar tocando as nuvens. Finalmente, chegaram ao topo da casa - o sótão. O quarto que a tia Póli lhe mostrou era tão acolhedor quanto a sala de espera de um dentista.Mas Pollyana, abençoada seja, olhava para aquele quartinho vazio como se fosse a casa na árvore mais legal já construída. Ela correu para a janela, com os olhos arregalados como pratos. A vista era de tirar o fôlego: colinas ondulantes, árvores exuberantes e um céu tão azul que parecia ter sido pintado por um artista.Quando a tia Póli a deixou para desfazer as malas, a mente de Pollyana já fervilhava de ideias. Ela retirou cuidadosamente os poucos pertences que tinha, tratando cada item como se fosse um tesouro. Ao chegar à fotografia de seus pais, fez uma pausa. Seus dedos traçaram suavemente os rostos sorridentes e, por um momento, o peso de tudo o que havia perdido a atingiu como um soco no estômago.Mas então, quase como se seus pais estivessem sussurrando palavras de encorajamento da foto, o queixo de Pollyana se ergueu. Ela colocou a foto no peitoril da janela, onde o sol podia brilhar sobre ela.Olhando novamente ao redor do quarto, Pollyana não via o que faltava, mas o que poderia haver. Aquela cadeira simples e velha? Estava implorando por uma almofada colorida que a fizesse se destacar. As paredes nuas? Eram como telas em branco esperando que ela as preenchesse com lembranças e sonhos.Quando o sol começou a se pôr, pintando o céu com tons de laranja e rosa brilhantes como um artista celestial enlouquecido, Pollyana sentou-se na cama, com as pernas balançando. Ela poderia estar num lugar estranho, com uma tia que parecia tão acolhedora quanto um cacto, mas estava determinada a encontrar o lado bom da situação.O otimismo de Pollyana era como uma pequena semente plantada naquele quarto do sótão. E mesmo que o solo parecesse um pouco árido no momento, aquela pequena semente estava pronta para crescer e se tornar algo lindo.Enquanto estava deitada na cama naquela noite, olhando para o teto desconhecido, a mente de Pollyana não parava. Ela tinha um segredo, um truque especial que sempre a ajudava a encontrar a felicidade, mesmo nos momentos mais difíceis. Era como um superpoder, na verdade. E amanhã, ela começaria a compartilhá-lo com todos nesta casa grande e fria. A começar por Nênci, a simpática empregada que ela havia conhecido mais cedo. Pollyana mal podia esperar para ver como seu pequeno jogo mudaria as coisas por aqui. Enquanto adormecia, um sorriso surgiu em seus lábios.
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