1. O berçário dos Darling A Casa Darling destaca-se das típicas residências londrinas. É um lugar que o envolve em calor e conforto, como um cobertor aconchegante numa noite fria. O quarto das crianças está sempre animado com o som de risadas e o farfalhar de aventuras imaginárias. E há ainda a Nana, a babá de quatro patas da família. Ela não é uma cadela comum, entenda bem.Certa noite, quando o céu ficou com aquele azul profundo e aveludado que faz você querer sussurrar todos os seus segredos, algo estranho aconteceu. A Sra. Darling estava no quarto das crianças, recolhendo brinquedos espalhados como confetes após uma festa. De repente, ela vislumbrou algo na janela. Estava lá e desapareceu num piscar de olhos, mas ela poderia jurar que viu o rosto de um menino espreitando.Com o coração aos pulos, a Sra. Darling correu para a janela mais rápido do que se pode dizer "menino voador". Mas, em vez de um garoto acrobata, tudo o que ela encontrou foi uma sombra. Sim, apenas uma sombra, esvoaçando ali como uma borboleta presa tentando escapar de um frasco. Ágil como um gato, ela a apanhou e a guardou numa gaveta.Enquanto isso, o Sr. Darling estava num dos seus estados de espírito. Ele havia tropeçado na Nana o dia todo, como um elefante numa loja de porcelanas. Sua paciência estava mais esgotada que a última gota d'água num copo. "Essa cadela não é uma babá!", declarou ele, com o bigode tremendo como uma lagarta furiosa. "Ela vai para fora hoje à noite, e ponto final!" A Sra. Darling tentou argumentar com ele, com os olhos arregalados de preocupação.Mas o Sr. Darling não queria saber disso. A pobre Nana foi banida para o quintal, parecendo tão miserável quanto um cão pode parecer. Quando ela saiu, de rabo entre as pernas, foi como ver o anjo da guarda das crianças sendo mandado embora.Enquanto o Sr. e a Sra. Darling se preparavam para sair à noite, havia uma tensão no ar, densa como nevoeiro. A Sra. Darling não parava de olhar para a porta do quarto das crianças, seu instinto materno gritando mais alto que uma sirene.As crianças estavam todas aconchegadas, parecendo pequenos querubins em suas camas. Mas havia algo diferente nesta noite. Talvez fosse a maneira como o luar pintava sombras estranhas nas paredes, ou como o vento parecia sussurrar segredos entre as árvores lá fora.Quando o Sr. e a Sra. Darling finalmente saíram pela porta, a Sra. Darling não conseguia se livrar dessa sensação de apreensão. Era como deixar uma panela no fogão - você sabe que algo vai ferver. Ela deu uma última olhada na janela do quarto das crianças, meio que esperando ver aquele rosto misterioso novamente. Mas não havia nada lá.O cenário estava montado para uma noite extraordinária. As crianças Darling, geralmente sob o olhar atento de sua guardiã canina, foram deixadas sozinhas numa casa que, de repente, parecia cheia de sombras e sussurros.Enquanto o relógio marcava o tempo e as estrelas cintilavam como olhos conhecedores no céu noturno, uma brisa suave agitava as cortinas da janela do quarto das crianças. Era apenas o vento ou era o sopro da aventura, esperando para entrar? A noite guardava seus segredos, mas logo, muito em breve, um visitante chegaria. Um menino que podia voar, um menino que nunca cresceu, estava a caminho para encontrar algo que havia perdido.
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