1. Uma viagem pelos Pirineus Emily St. Aubert, uma jovem de dezessete anos, estava prestes a embarcar numa jornada que mudaria sua vida. Ela e seu pai enfermo, Monsieur St. Aubert, partiriam em breve para os Pireneus. O velho decidira que era hora de deixar sua amada propriedade, La Vallée, em busca de cura e novas experiências.Deixar La Vallée não foi fácil. Era o único lar que Emily conhecera, repleto de lembranças de infância e da presença reconfortante dos pais. Confiaram a propriedade a Theresa, sua fiel empregada, que estava com a família há uma eternidade.Ao partirem, os Pireneus erguiam-se à frente como uma muralha de gigantes, com os picos ocultos por um véu de névoa. As trilhas da montanha serpenteavam como cobras, levando-os cada vez mais alto e mais fundo na natureza selvagem. Aubert, apesar da doença, aproveitava cada oportunidade para ensinar Emily sobre a vida. Apontava uma florzinha silvestre agarrada a uma saliência rochosa ou uma vista que se estendia por quilômetros, incentivando Emily a absorver tudo. "Observe o mundo ao seu redor, Emily", dizia ele, com a voz fraca, mas cheia de sabedoria.Mas a jornada não se resumiu a vistas tranquilas das montanhas e lições de vida. Uma noite, quando o sol se punha, tingindo o céu de laranja ardente e roxo profundo, depararam-se com um bando de salteadores. Esses sujeitos pareciam saídos de um pesadelo, surgindo das sombras com olhos que brilhavam como os de lobos na escuridão. O coração de Emily batia tão forte que ela pensou que poderia explodir no peito, e agarrou-se ao braço do pai como se fosse uma tábua de salvação. Por algum milagre, ou talvez os bandidos simplesmente não estivessem com disposição para causar problemas naquele dia, deixaram Emily e seu pai em paz.O clima também resolveu pregar-lhes peças, lançando contra eles tudo o que tinha. Certo dia, foram apanhados por uma tempestade tão violenta que parecia que as montanhas tentavam sacudi-los. O vento uivava como uma matilha de lobos furiosos e a chuva caía com tanta força que parecia agulhas em sua pele. Mal conseguiam enxergar um palmo à frente, cambaleando como se estivessem cegos.Quando as coisas pareciam realmente ruins, como se não fossem sobreviver à noite, encontraram uma pequena estalagem. Foi como achar um oásis quente e seco no meio de um oceano de chuva e vento. A dona da estalagem, uma mulher gentil com mãos calejadas por uma vida de trabalho árduo, deu uma olhada em Monsieur St. Aubert e os levou para dentro. Emily passou a noite cuidando do pai, cuja saúde piorara após a tempestade. Ao colocar panos frios em sua testa, tentando baixar a febre, ela percebeu como a vida pode ser frágil.Mas nem tudo foram dificuldades e momentos assustadores. Conheceram uma família de pastores que os recebeu como se fossem parentes há muito perdidos. Compartilharam sua refeição simples e seu lar aconchegante com Emily e seu pai e, por um tempo, todas as preocupações pareceram se dissipar. As crianças corriam, riam e brincavam, fazendo Emily perceber que a felicidade nem sempre vem de ter muitas coisas.À medida que continuavam a viagem, Emily sentia-se mudar. Ela e o pai ficavam mais próximos a cada dia que passava. Começou a notar coisas que talvez não tivesse percebido antes - a maneira como a luz do sol se filtrava pelas folhas, criando padrões no chão, ou como um riacho da montanha parecia cantar enquanto descia pelas rochas. Os Pireneus já não eram apenas um amontoado de grandes rochas.Visitaram ruínas antigas, cujas pedras em decomposição sussurravam histórias de pessoas que viveram e morreram séculos atrás. Em pequenas aldeias escondidas nas montanhas, conheceram pessoas cujas vidas eram tão diferentes das de Emily, mas que demonstraram bondade para com esses viajantes cansados sem hesitar.Quando começaram a voltar para casa, Emily percebeu o quanto havia crescido. A menina tímida que deixara La Vallée desaparecera, substituída por uma jovem que enfrentara bandidos, resistira a tempestades e encontrara beleza nos lugares mais inóspitos.Ao olhar para o pai, visivelmente exausto pela jornada, mas ainda com aquele brilho nos olhos, Emily sentiu uma onda de amor e gratidão invadi-la. Essa viagem, com todos os seus altos e baixos, a preparara para o que quer que a vida lhe reservasse.Mas sua aventura ainda não terminara. Enquanto desciam por um caminho particularmente íngreme na montanha, Emily avistou algo - ou alguém - ao longe. Uma figura solitária a cavalo aproximava-se. Quem poderia ser, ali no meio do nada? O coração de Emily acelerou, numa mistura de curiosidade e apreensão.
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